A sua dedicação é tanta que plantou uma horta junto à casa para que os papagaios comam apenas legumes e cereais biológicos, dispensando-os da ração. E até construiu uma espécie de viveiro de gafanhotos, minhocas, baratas e grilos para que, de quando em vez, possam também ter direito a um 'petisco' vivo. Tudo porque a alimentação não é uma questão de somenos. Bem nutridos e cuidados, podem viver 60, 70 anos, às vezes mais. Têm das esperanças médias de vida mais longas de todo o reino animal."Sacrifico a minha vida por causa destas aves. Já nem tiro férias para ficar sempre com eles. É um vício. Qualquer dia, a minha mulher põe-me fora de casa. Diz que estou mais tempo com os papagaios do que com ela", conta Júlio, a brincar.
Mas a verdade é que já houve um ataque de ciúmes na casa de Júlio Rocha, e de tal modo que acabou em separação. Mas não era a mulher quem não aguentava a presença da 'outra'. O problema era a "Flecha", uma fêmea cinzenta africana, a espécie mais faladora, que tinha atitudes possessivas. "Ela adorava-me, mas tinha imensos ciúmes da minha mulher e às vezes mordia-lhe quando ela se aproximava. Tivemos de dá-la a um amigo", lamenta Júlio.
Já passaram alguns anos, mas o criador ainda recorda com visível orgulho as habilidades do bicho. A forma como cantarolava a canção da "Aldeia da Roupa Branca" ou assobiava na perfeição a banda sonora do filme "A Ponte sobre o Rio Kwai". E, sobretudo, como todos os dias, pelas 12h30, se punha à janela a chamá-lo. "Júlio, vem almoçar!", gritava-lhe, substituindo a mulher na convocatória diária para a refeição.
Um elemento da família. Os ciúmes da "Flecha" não são um caso raro entre os psitacídeos, a grande família de aves a que pertencem os papagaios, as araras ou as catatuas, por exemplo. "São animais com uma capacidade de envolvimento emocional incrível. Desenvolvem uma enorme atracção por uma pessoa e, por isso, às vezes têm ciúmes de outras que estão perto dela. Mas é perfeitamente possível que se dêem bem com todos os elementos da família se forem devidamente educados. Mesmo que tenham sempre uma relação mais especial com um deles", explica Isabel Sampaio, treinadora destas aves e fundadora do recém-criado Clube dos Papagaios.
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